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terça-feira, 2 de agosto de 2016

Conto de uma mente angustiada




Minhas mãos estão sujas de tanta besteira que já fiz, meu dedos viraram garras.
Tudo que toco traz a morte.
Eu tento me apegar a razão, mas já não sei mais como funciona isso. O que seria afinal A RAZÃO?
Eu sou todo cercado por sombras, deformadas, carregadas. Vivo em torno de pensamentos pessimistas, tristes. Estou sempre sendo levado pra um lugar escuro, sem saída. Uma espécie de labirinto de dor.
Quanto mais eu busco a saída e mais tento me conhecer, mas eu mereço estar lá.
Eu queria que me cegassem os olhos no dia que conheci a felicidade.
Queria nunca ter conhecido as maravilhas da vida. Talvez assim, eu pudesse acreditar que a vida é assim mesmo e estar relaxado com isso.
Se eu tivesse direito a um pedido eu pediria pro destino:
- me devolva tudo o que me tirou: meu amor, carinho, alegria, ou seja, minha vida.
Mas meu pedido seria negado com certeza porque eu não mereceria e ele estaria certo!
Por que mereceria? O que eu poderia mostrar além de fracassos. Nada.
Apesar de sentir certo orgulho por tentar, eu não havia chegado a lugar nenhum. Eu não seria ninguém capaz de convencê-lo.
Eu ouviria a risada do destino ecoando por toda minha vida. Gargalhando daquele infeliz menino que achava que merecia tal regalia, de ser feliz.
- O que você é? Diria ele.
- Nada
- O que você faz?
- Nada
- Então como acha que conseguiria algo? Você não é nada, não tem virtudes. Você é fraco, covarde, burro, feio. Como tentar ser feliz assim? Desiste filho.
O destino então me ofereceu uma companhia. Alguém que eu teria sempre do meu lado. Eu não tinha nada a perder. Por que não aceitar?
A companhia era conhecida como Tristeza.
Me assustei em um primeiro momento ao me deparar com aquela criatura.
Era de dar dó de seu semblante. Sua face era sofrida e implorava compaixão.
Prometeu-me nunca me abandonar, falou que seria como uma irmã para mim.
Me deu pena, quis consolá-la. Me vi naquela criatura a mim mesmo. Era uma espécie de espelho. Senti vontade de abraçá-la.
Foi quando fiz isso e senti um estalo no peito.
E até hoje tenho sua companhia.
Eu não podia reclamar, ela cumpriu com o que prometeu.
Acho que talvez, seja a única promessa cumprida nos últimos tempos por alguém.
Tento me distrair em pensamentos. Tento ao menos buscar um sorriso em um sonho talvez. Mas, os sonhos não vêm.
Paro, penso...
Imagino-me em algum lugar muito distante.
Algum lugar onde eu não pudesse ser alcançado e nem as pessoas pudessem ouvir e entender minhas preces.
Estaria numa espécie de deserto. Em busca do que? Não saberia dizer.
Talvez estivesse buscando um oásis, uma sombra. Não saberia dizer nem porque estou andando.
Por que enfrento aquele calor todo e não desisto? Não seria mais simples? Não seria menos doloroso?
Como andar por caminhos que não conheço, tentando chegar aonde eu não sei?
E sabem como eu termino nesse pensamento?
Termino derrotado, entregue ao calor, esperando que os ventos do deserto soprem e façam com que as areais do deserto cubram o que restou de mim.
Um adeus solitário, sofrido e dolorido.
Um adeus talvez certo por tudo que acontece, mas jamais desejado.
Um adeus que encerra qualquer esperança de futuro.
Acordo e estou ainda mais triste. Já tenho medo até de fechar os olhos. Cada pensamento, cada ato só me leva a solidão, a tristeza.
Não sei mais o que acontece comigo.
A dor no peito aumenta, a agonia me domina quando vou dormir.
Vejo lágrimas correndo e não acho o motivo.
De repente penso que amanha será um novo dia.
E isso me deixa mais triste.